quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Cumpanheiro, com muito orgulho.

O arsenal - Diego Rivera (1928)
 


Tenho lido com certa frequência, o uso da palavra companheiro grafada “cumpanheiro”, como forma pejorativa e muitas vezes como se denotasse algo ruim ou que remetesse ao uso somente de pessoas de um determinado partido que utilizasse esta palavra, ou sua forma abrasileirada.

O primeiro aspecto, e o que mais me preocupa, é que esta distinção demonstra nitidamente um preconceito social e certa xenofobia aos nordestinos, parcela da população brasileira considerada “ inferior”  por um grupo de pessoas que se auto afirmam como superiores por sua origem européia ou oriental, mormente estrangeira, pseudo educação e cultura acadêmica e um pensamento de elite positivista do século XIX.

Nada mais falso, somos tão ínfimos e precários como criaturas vivas sobre a terra, que qualquer crença de superioridade é descabida. Caminhamos todos juntos para o extermínio da espécie, por uma ilusão de desenvolvimento e riqueza que está esgotando rapidamente os recursos do planeta e a existência da vida se dá em bases tão precárias, que uma única  tempestade solar poderá acabar com toda a nossa tecnologia em alguns segundos. 

Aprendi a ouvir a palavra “cumpanheiro”, da boca de pessoas maravilhosas, que apesar de todo o peso que a vida lhes pôs aos ombros, tinham a decência de serem solidários, companheiros, lutadores e terem uma visão aguda de mundo, muito mais apurada que muito acadêmico jamais terá.  Pessoas em que pude e posso confiar minha vida e que não me apunhalarão pelas costas por mais uma migalha. Quem vê com escárnio seu linguajar, não deveria ter merecimento de pisar este chão pátrio que tanto depende do homem do campo,  das pessoas dependuradas nos andaimes, construindo estas pequenas caixas que nos servem de esquife. Como é fácil o esquecimento, se pudessem conversar com seus avós, eles lhes contariam uma história de privação e sofrimento na velha terra, de que muitos vieram para o Brasil para não morrer de fome, sobretudo que muitos se tratavam por companheiros, anarquistas em busca de uma terra que não estivesse subjugada pela nobreza agrária.

O segundo aspecto, vê o tratamento companheiro relacionado à um único partido brasileiro, o que é uma profunda inverdade, o tratamento companheiro foi adotado pelos socialistas de língua portuguesa, companheiro vem  dos camaradas de luta, dos sindicatos, dos movimentos estudantis, muitos ainda utilizam-se do tratamento camarada, mas que em geral é mais usual entre os comunistas de tradição marxista, já que os anarquistas, anarcossocialistas   e comunistas libertários também comumente se utilizam deste tratamento, portanto companheiro é uma tratamento socialista, independente de qualquer partido ou de partidos, que nunca serão um instrumento em si, mas uma ferramenta de luta. Por isso surgem novos partidos, o que importa é a causa e talvez seja este o objetivo primo da zombaria, querem por toda maneira, apagar o brilho de uma luta que vem de muito tempo e que não se limita às nossas fronteiras geográficas.

Portanto, por mais que os arautos do ódio queiram embotar esta palavra, sempre me sentirei orgulhoso, quando uma pessoa humilde, um brasileiro de cepa  me cumprimentar desta maneira. Cumpanheiro, com muito orgulho.