sábado, 26 de fevereiro de 2011

Da importância de sermos carnívoros.

Embora a palavra grega biblos (βιβλίον) signifique hoje tanto rolo quanto livro, a leitura nesse rolo é muito diferente da leitura de um livro como hoje o conhecemos. O rolo é uma longa faixa de papiro - ou, mais tarde, de pergaminho - que o leitor deve segurar com as duas mãos para poder desenrolá-la, fazendo aparecer trechos distribuídos em colunas. Não é possível, por exemplo, que um autor escreva ao mesmo tempo que lê. 




Exemplo de rolo utilizado na Antiguidade


Os rolos, criados posteriormente à invenção da escrita e, naturalmente, por causa dela, foram fundamentais para o que hoje chamamos de literatura, pois os textos gregos da época de Sócrates, Platão e Aristóteles, Ésquilo, Sófocles e Eurípedes se tornaram a base da cultura Ocidental e puderam sem preservados em locais específicos para este fim, como a lendária Biblioteca de Alexandria.

A Biblioteca de Alexandria, uma das maiores bibliotecas do mundo antigo, foi fundada no início do século III a.C. por Alexandre, o Grande, que teve como tutor ninguém menos que Aristóteles, e existiu até a Idade Média, quando foi totalmente (ou quase) destruída por um incêndio casual. Calcula-se que havia mais de quinhentos mil rolos na Biblioteca de Alexandria, mas como uma obra podia ocupar, sozinha, dez, vinte, até trinta rolos, havia um número de obras muito menos significativo. Segundo Chartier, só o catálogo da biblioteca era constituído de cento e vinte rolos.

À medida que a escrita foi ganhando em importância e valor, outro suporte, que embora mais caro era menos quebradiço e resistia melhor ao tempo, passou a ser muito utilizado nas confecções dos rolos: o pergaminho. O pergaminho é um material feito da pele de um animal (geralmente cabra, carneiro, cordeiro ou ovelha) e especialmente fabricado para se escrever sobre ele. A origem do seu nome é a cidade de Pérgamo, onde havia uma produção vasta e de grande qualidade deste material, e há controvérsia se sua origem remonta mesmo a esta cidade. De qualquer forma, na Biblioteca de Pérgamo, contemporânea a de Alexandria, os rolos em papiro eram copiados em pergaminho, e este material foi fundamental para a preservação dos textos da Antiguidade.
Carrière e Eco, em Não contem com o fim do livro, contam que Régis Debray, filósofo francês, perguntou-se o que teria acontecido se os romanos e gregos tivessem sido vegetarianos: "não teríamos nenhum dos livros que a Antiguidade nos legou em pergaminho, isto é, numa pele de animal curtida e resistente"

Fonte:     http://www.digestivocultural.com/colunistas/coluna.asp?codigo=3275&titulo=Historia_da_leitura_%28I%29:_as_tabuas_da_lei_e_o_rolo

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

O texto na era digital

http://revistalingua.uol.com.br/textos.asp?codigo=12239


Revista Língua Portuguesa, Ed. 64

O texto na era digital

Edgard Murano

Na ponta do lápis: escrever tornou-se uma atividade mais banal depois da internet, consequência de blogs, e-mails e redes sociais
Houve um tempo em que o hábito de manter cadernos de anotações era algo bastante corriqueiro. Os chamados de "livros de lugares-comuns" (ou commonplace books) eram utilizados pelos leitores para o registro de trechos e passagens interessantes com que se deparavam em suas leituras. Mas além de transcrições, esses cadernos também reuniam apontamentos sobre a vida cotidiana, conforme relata o historiador Robert Darnton em A Questão dos Livros (Cia. das Letras, 2009, p.164). Essas informações eram grupadas e reorganizadas à medida que novos excertos iam sendo acrescidos. O hábito espalhou-se por toda a Inglaterra no início da era Moderna, e muitos escritores famosos - entre eles John Milton e Francis Bacon - cultivaram essa maneira especial de absorver a palavra impressa, fundada na não linearidade e na fragmentação da informação.

Tradição viva
Hoje, com mais de 37 milhões de usuários de internet só no Brasil, essa tradição de escrita parece mais viva do que nunca, impulsionada por novas tecnologias e amplificada pela comunicação em rede. Não é exagero afirmar que e-mails, blogs e redes de relacionamento já deixaram sua marca na produção textual contemporânea. Para o escritor Michel Laub, autor dos romances O Gato Diz Adeus e Longe da Água (ambos pela Cia. das Letras), a internet tornou os textos mais naturais e coloquiais, embora não seja a única responsável por essas mudanças.

- O texto da internet é um texto em geral mais coloquial, menos "literário", no sentido de ser mediado por truques de estilo. A internet não inventou a coloquialidade, mas fez com que ela passasse a soar mais natural para muito mais gente e, estatisticamente ao menos, virou um certo padrão - afirma.

Com cada vez mais usuários - o acesso à rede no Brasil aumentou 35% entre 2008 e 2009 - a internet está criando novos hábitos de comunicação entre as pessoas, que acabam se adaptando às facilidades da nova tecnologia. Isso vale tanto para a leitura, em vista da profusão de textos veiculados na rede, quanto para a escrita, principal meio de expressão do internauta (pelo menos até que as conversas "via voz" se tornem mais corriqueiras).

Superficialidade
Há quem veja nessa torrente de informações que jorra na internet um fator negativo, dificultando nossa concentração em textos de fôlego como romances, por exemplo. Em artigo controverso publicado na revista The Atlantic em 2008, intitulado "O Google Está nos Deixando Idiotas?", o crítico de tecnologia Nicholas Carr defende a tese de que a navegação na internet está interferindo em nossa capacidade de leitura. Se antes, afirma Carr, ele se sentia um "mergulhador num oceano de palavras", hoje ele literalmente se sente "esquiando nesse oceano", dando a entender que a experiência de ler proporcionada pela internet é bastante superficial.

Por falar em imersão, para Roseli Deieno Braff, supervisora de língua portuguesa da editora COC, essa geração que já nasceu imersa na tecnologia não possui carência de informações, pois está sempre conectada. Porém falta muitas vezes a capacidade de se aprofundar mais no que leem e, consequentemente, de separar o joio do trigo

- Não falta informação para esses jovens, mas muitas vezes falta a capacidade de processar e refletir sobre tudo o que leem. Ansiosos e inquietos, consideram uma tarefa muito difícil ler um livro de cem páginas. Nesse sentido, a ausência de concentração torna-se muito negativa, obstáculo inclusive para a resolução dos problemas que a vida certamente vai oferecer - afirma Roseli.

Ainda que o processo de reflexão não esteja acompanhando o ritmo acelerado com que esta geração vem consumindo informações, a professora de português Rosangela Cremaschi, do curso de Comunicação Escrita da FAAP, acredita que a diversidade de códigos e linguagens tem deixado os jovens mais atentos e receptivos.

- A internet deixou o leitor mais receptivo e participativo, pois recebe informações em diferentes linguagens e por meio de leituras não lineares
. O texto até então "sagrado" se torna mais acessível. Se antes o ato de ler era algo distante, a internet acabou com isso, o que é positivo - defende Rosangela.

O escritor Michel Laub também vê com bons olhos os novos hábitos de leitura incutidos pela tecnologia. Para ele, a propensão a textos mais curtos em sites e blogs não nos tornou necessariamente mais dispersos ou desatentos. Ao contrário: lê-se mais do que antigamente.

- Os que leem textos mais longos e difíceis são uma minoria como sempre foram. Mas o restante das pessoas, que há uma década não lia nada, hoje trabalha com o texto escrito boa parte do tempo, e isso cria um certo hábito de leitura, mesmo que diluído - afirma.

O historiador Robert Darnton: a leitura e a escrita fragmentadas tiveram precedentes na era Moderna
Mais leitores

Não por acaso, segundo a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, realizada pelo Instituto Pró-Livro na última década, o Brasil saltou de 26 para 66,5 milhões de leitores no que diz respeito a livros impressos. Esses números por si só já desfazem qualquer "má" influência da internet sobre os hábitos de leitura do brasileiro.

- A internet não deve ser vista como algo negativo, pois amplia nossas possibilidades de leitura. É claro que é preciso um olhar crítico, e este é o papel do educador, o de orientar a busca, seleção e gerenciamento das informações que estão disponíveis na rede - afirma Valéria Caratti, consultora do portal Planeta Educação.

Não só a leitura como também a escrita foram favorecidas pela explosão da comunicação na internet observada na última década, que proporcionou um contato maior das pessoas com atividades que envolvam a escrita - como deixar um recado na página de um amigo, escrever um e-mail ou postar textos num blog. Também é inegável que sites de relacionamento - como Orkut, Twitter e Facebook, só para citar os mais conhecidos - tornaram o ato de escrever mais banal e cotidiano, sem nenhum prejuízo nisto, uma vez que a escrita elaborada deixou de ser algo exclusivo de escritores e das atividades escolares.

Os números atestam a presença incontornável das redes sociais no dia a dia das pessoas. Segundo uma pesquisa realizada pela empresa Hitwise Serasa Experian, essas redes são responsáveis por 62% do tráfego de internet no Brasil. Em julho de 2009, 21,4 milhões de pessoas usaram algum tipo de rede social no país, isto é, cerca de 83% dos internautas residenciais, de acordo com o Ibope Nielsen Online.

O que já havia sido deflagrado nos anos 90 pela comunicação via e-mail, mensageiros eletrônicos e pela cultura escrita dos blogs, as redes sociais elevaram à enésima potência ao garantir interatividade e visibilidade às pessoas em torno de interesses em comum. O próprio microblog Twitter, intensamente debatido na mídia por sua contribuição à concisão (ver a matéria "O que é possível dizer em 140 caracteres?", Língua 54), de certa forma cristalizou uma tendência a textos enxutos.  Gêneros de texto como o aforisma, o haicai e o epigrama, entre outras formas breves, encontram no Twitter o suporte ideal.

Para além dos modismos que nascem e morrem na grande rede mundial de computadores, o advento do microblog Twitter extrapolou essa esfera para cair na boca de grandes homens de letras, muitas vezes avessos a novidades tecnológicas, como o escritor José Saramago, que chegou a declarar: "Os tais 140 caracteres reflectem algo que já conhecíamos: a tendência para o monossílabo como forma de comunicação. De degrau em degrau, vamos descendo até o grunhido". Por mais que autores torcessem o nariz para a ferramenta, muitos deles aderiram, dando corpo ao que se chamou de "tuiteratura". No Brasil, escritores como Fabrício Carpinejar, Marcelino Freire, Carlos Seabra, entre muitos outros, aderiram ao novo gênero, emprestando-lhe uma dicção própria.

Para o escritor Michel Laub, a internet tornou os textos mais naturais e coloquiais
Coexistência

Essa diversidade estilística introduzida na literatura pelo texto praticado na internet, com suas formas mais soltas e coloquiais, criou dois caminhos possíveis para escritores, afirma Michel Laub. Ele argumenta que, por um lado, parte dos leitores ficaram mais impacientes com a prosa de feições literárias - mais lentas, de vocabulário mais amplo, verbos no mais-que-perfeito etc. - ao passo que outros leitores passaram a valorizar ainda mais esse tipo de escrita, justamente pela superexposição a textos mais simples encontrados na internet. No entanto, o escritor acredita que essas duas vertentes de prosa podem coexistir.

- Sempre é possível a diversidade na literatura. Cito dois exemplos de autores que escreviam assim muito antes da internet: William Faulkner, mais "oral", e Marcel Proust, mais "literário" - explica Laub.

Para Roseli, no entanto, os resultados dessa coexistência são variáveis, com resultados nem sempre positivos.

- Do mesmo modo que a oralidade intervém na norma culta do idioma, e que foi uma das bandeiras dos modernistas brasileiros na Semana de 1922, a linguagem "ligeira", às vezes cifrada e só para iniciados, também afeta a modalidade culta, e o resultado nem sempre é positivo - afirma.

Anos antes de o microblog cair na preferência de internautas no mundo inteiro, os blogs já ocupavam um lugar privilegiado na internet, que pela primeira vez oferecia aos usuários a possibilidade de escrever, editar e publicar seus próprios textos.

- O espaço reduzidíssimo do Twitter opõe-se ao blog, este sim uma ferramenta capaz de abrigar fotos, textos próprios ou alheios, comentários, tudo organizado em forma de mural ou diário eletrônico, utilíssimo para desenvolver nos estudantes as habilidades de leitura e escrita - explica a professora Roseli.

A partir daí, navegar pela internet deixou de ser um ato solitário, em que o usuário apenas entrava nas páginas e lia seus conteúdos. Com os recursos de interação cada vez mais expandidos, qualquer site é um convite a comentários, críticas e observações, obrigando os internautas a desenvolverem discursos de improviso e a defender seus pontos de vistas. O Facebook, por exemplo, aprimorou as antigas listas de discussões e fóruns, acrescentando-lhes um visual mais limpo e elaborado, com diferentes graus de interação acompanhados de recursos audiovisuais, tornando a experiência de compartilhar informações ainda mais enriquecedora.

Embora não se possa afirmar categoricamente que a internet favoreceu o desenvolvimento de uma "cultura letrada", com ênfase em informações profundas e relevantes, ela reforçou o peso da palavra escrita no cotidiano das pessoas. Mais do que gírias e jargões, como o famigerado "internetês", as transformações pelas quais passam a escrita e a leitura estão por ser dimensionadas.

As regras de ouro do e-mail
Anterior à internet, o correio eletrônico continua sendo uma das formas de comunicação mais eficazes
Mais antigo do que a própria internet, o e-mail é uma das ferramentas mais importantes da comunicação virtual, e seu surgimento foi importante para que a rede mundial de computadores fosse aperfeiçoada e desenvolvida. A primeira troca de mensagens eletrônicas foi em 1965 e possibilitava a comunicação entre várias pessoas ao mesmo tempo.

A velocidade dessas mensagens pode ser um prato cheio para desatenções por parte de redatores, resultando em erros muitas vezes constrangedores. Para que isso não ocorra, o texto de um e-mail deve ser simples, exigindo cuidados com sua releitura e acertos no tom da mensagem.

No trabalho, onde a comunicação pode custar dinheiro ou mesmo o sucesso profissional, um e-mail deve ser redigido com toda a atenção para não dar margem a mal-entendidos. Deve priorizar três pontos: simplicidade, clareza e objetividade.
  • O vocabulário deve pertencer à linguagem usual, sem expressões rebuscadas que possam complicar a mensagem;
  • Simplicidade não pode ser sinônimo de descuido. É preciso estar atento à repetição de termos sem necessidade, abreviações obscuras ou construções truncadas;
  • Para um texto conciso e claro, basta relê-lo e cortar termos desnecessários,evitando dizer em muitas palavras o que se poderia dizer em poucas;
  • Ter em mente o receptor de sua mensagem e tentar adequar o tom, com o cuidado de reler no final o texto
  • Cuidado com palavras mal colocadas e destinatários errados. Uma simples mensagem destinada à pessoa errada por engano pode causar grandes estragos.


A "netiqueta"
Como se comportar corretamente no mundo virtual
  • Maiúsculas:
    textos em maiúsculas (CAPS LOCK ativado), na maioria dos casos, dão a entender que você está gritando. Se quiser destacar algo, sublinhe ou coloque entre aspas. Se o programa utilizado na comunicação permitir, use o itálico ou o negrito, mas sempre de forma moderada para não poluir o texto.

  • Erros de grafia: em conversas informais é normal que a norma culta da língua seja posta de lado. O que não quer dizer que se possa escrever de qualquer jeito. Atenção para os erros que podem mudar o significado do que se quis dizer, como usar "mais" em vez de "mas", "e" em vez de "é", "de" em vez de "dê" e assim por diante.

  • Pontuação: por mais informal que seja, o interlocutor pode não conseguir acompanhar o fluxo de pensamento do redator. Daí a necessidade de pausas. Por isso atenção à pontuação e à divisão de parágrafos.

  • Respostas: ao enviar respostas em fóruns, listas de discussão ou debates em redes sociais como o Facebook, por exemplo, procure ser claro sobre o que está falando ou a que está se referindo. Copie e cole um trecho da questão, dê nome ao que você pretende responder e evite deixar sua réplica solta sem referências às mensagens prévias nas quais você se baseou.

  • Público x privado: questão cara em tempos de redes sociais, o cuidado com o que se publica é essencial para evitar mal-entendidos e situações constrangedoras. Como o meio virtual permite respostas muito rápidas e publicações instantâneas, pense antes de tornar públicos seus pensamentos. Por isso pense, escreva, leia o que escreveu e só depois publique na internet. Lembre-se que suas opiniões ficarão registradas e podem ser facilmente associadas ao seu nome numa busca rápida. Evite também publicar informações que possam lhe causar problemas, como críticas ao seu chefe ou seu endereço.


Um blog pra chamar de seu
Manter uma página com textos próprios pode melhorar suas habilidades de escrita e leitura
A palavra "blog", redução de web log, foi criada em 1997 para designar sites cuja estrutura dinâmica e interface amigável facilitam a publicação imediata de textos, imagens e sons, sem a mediação de webmasters ou especialistas em tecnologia. Sua estrutura favorece a ordem cronológica, cabendo ao post mais recente o lugar de destaque no topo da lista.

Atualmente há milhões de blogs em atividade na internet e sobre os mais variados temas. Tem-se atribuído um papel importante aos chamados "blogueiros" na mídia de hoje, veiculando informações exclusivas e conteúdos que dificilmente seriam publicados em veículos de expressão, seja por razões ideológicas ou por serem de interesse muito específico.

Educadores e especialistas em linguagem são unânimes ao afirmar que o cultivo de um blog pessoal traz benefícios às habilidades de escrita e leitura. A seguir, algumas dicas importantes para quem deseja tornar-se um editor dos próprios textos:
  • Escolha um serviço de blogs (Wordpress, Blogspot etc.) e crie uma conta com um endereço fácil de memorizar
  • Não se preocupe de imediato em definir um tema específico, que mais tarde poderá ser uma camisa de força. A ideia é que o blog seja abrangente o bastante para abarcar variados temas
  • Procure não emitir opiniões polêmicas ou preconceituosas. Isso pode lhe custar um processo
  • Procure escrever com regularidade. Se num mesmo dia tiver ideias para mais de um texto, publique apenas um e programe os outros para serem publicados em dias diferentes
  • Redes sociais como o Twitter e o Facebook são uma boa vitrine para o seu blog. Procure chamar a atenção de seus amigos e seguidores para seus posts publicando links,

Use o Twitter a seu favor
Extraia o máximo de sua comunicação com o mínimo de caracteres
O Brasil é o segundo país com o maior número de usuários do Twitter, rede social criada em 2006 que permite ao internauta escrever mensagens de no máximo 140 caracteres. O serviço também permite que você "siga" outros perfis, cujas informações podem ser visualizadas em tempo real. A onda do Twitter chegou rapidamente ao mundo corporativo, que aos poucos começa a usá-lo de forma mais eficaz. A seguir, algumas sugestões que podem ser úteis para quem quer fazer bom uso da ferramenta.

  • Regularidade: muitos perfis no Twitter ficam inativos por tempo demais, não cumprindo assim a função a que se propõem. Portanto escreva, leia, siga, enfim, faça-o funcionar.


  • Pessoal x profissional: cuidar de um Twitter corporativo exige que você "pense" como a empresa ou o produto. Por isso nunca emita opiniões pessoais sobre temas polêmicos.


  • Interação: embora o Facebook seja mais propício à interação com outros usuá­rios, o Twitter também permite formas de interação com outros perfis. O ideal é que não se faça desse espaço uma espécie de sala de bate papo. Deixe as conversas longas e de caráter mais pessoal para o e-mail ou Facebook. Ouça opiniões, retuíte-as, responda e não fuja de questões delicadas, mantendo sempre a responsabilidade sobre o que está dizendo.


  • Não saia seguindo todo mundo: de nada adianta seguir 10 mil pessoas esperando ser seguido de volta. O que irá atrair seguidores do seu perfil certamente é o conteúdo do que você publica. Além disso, seguir muitas pessoas sobrecarregará sua timeline, impedindo que você absorva todas as informações.


  • "Unfollow": se acaso algum perfil estiver inundando-o de informações inúteis ou ofensivas, não hesite em parar de segui-lo (unfollow). Mas não é preciso alardear.


  • Honestidade: não tome como suas as ideias que você leu em outros perfis. Procure citar a fonte de seus tuítes.


  • Glossário do Twitter
    • Seguidores: da palavra follower, são os usuários que "seguem" (monitoram) um perfil.
    • RTs: abreviação de "retuítes", trata-se da citação do que alguém já tuitou antes. A pessoa citada logo é notificada de que foi mencionada e quem a mencionou.
    • Hashtags: palavras com o símbolo # à frente designam o tema tuitado. Se o usuário clicar nesse termo será levado a uma página que reúne todas as mensagens que possuírem a mesma hashtag. Por exemplo, #diadalinguaportuguesa.
    • Trending topics: literalmente "tópicos que são tendência". É o ranking de palavras e hashtags mais tuitadas, seja no Brasil ou em outros países.

    O que é possível dizer em 140 caracteres?
    Sucesso do Twitter no Brasil é oportunidade única de compreender a importância da concisão nos gêneros de escrita

    Edgard Murano


    A máxima "menos é mais" nunca fez tanto sentido como no caso do microblog Twitter, cuja premissa é dizer algo - não importa o quê - em 140 caracteres. Desde que o serviço foi criado, em 2006, o número de usuários da ferramenta é cada vez maior, assim como a diversidade de usos que se faz dela. Do estilo "querido diário" à literatura concisa, passando por aforismos, citações, jornalismo, fofoca, humor etc., tudo ganha o espaço de um tweet ["pio" em inglês] e entender seu sucesso pode indicar um caminho para o aprimoramento de um recurso vital à escrita: a concisão. Segundo a Sysomos, empresa especializada no monitoramento de mídias sociais, o Brasil é, desde fevereiro, o segundo país com maior número de tuiteiros, com 8,8% da população mundial de usuários (eram 2% em junho). Fica bem atrás dos EUA, que detêm 50,88% desse universo, mas à frente do Reino Unido, em terceiro com 7,2%.

    O português é a terceira língua mais tuitada. São 4,5 milhões de mensagens no idioma, todo dia (ver tabela na próxima página). O Twitter saltou de 7,8 milhões de visitantes brasileiros em dezembro para 9 milhões em janeiro.
    Amadurecimento
    A crescente adesão brasileira não chega a ser surpresa. Com uma inclusão digital em pleno vapor, o país atingiu 66,3 milhões de internautas em 2009, 16% a mais do que em 2008, segundo a Ibope Nielsen Online. Na rabeira dessa onda, fenômenos de concisão on-line, como o Twitter, ficam mais evidentes.

    No começo, era comum que os usuários da ferramenta se limitassem a registros do cotidiano ou descrições de estados de espírito, como "estou indo pra escola" ou "acordei meio triste". Embora o estilo confessional persista, sobretudo entre os mais jovens, a diversidade de vozes é hoje maior, favorecendo a pluralidade de estilos. Contar com um público mais maduro pode ter ajudado a diversidade de textos do Twitter. Só 15% dos norte-americanos no Twitter têm menos de 25 anos, segundo o Morgan Stanley Research. No Brasil, 61% dos usuários são homens na faixa de 21 a 30 anos.
    A ferramenta intensifica a tendência à concisão verbal, uma das marcas da comunicação on-line. A economia de sinais gráficos deu força, por exemplo, à chamada "tuiteratura", neologismo para os enunciados telegráficos com criações originais, citações ou resumos de obras impressas. Até a Academia Brasileira de Letras se rendeu ao "novo gênero", criando um concurso de microcontos inspirado no Twitter, cujas inscrições se encerram em 30 de abril (saiba mais em www.twitter.com/abletras).

    Se a inventividade autoral explora situações dramáticas em pílulas (ver "Contraponto", página 47), a paródia ligeira já virou um genuíno subgênero tuiterário. Lançado em novembro por Alexander Aciman e Emmett Rensin, da Universidade de Chicago, a antologia Twitterature: The World's Greatest Books Retold Through Twitter [Twitteratura: os melhores livros do mundo recontados pelo Twitter], da Penguin Books, recolhe ou inventa versões "enxutas" de clássicos como Moby Dick, Medeia e Madame Bovary.
    Haicais
    A adaptação ligeira de um Sherlock Holmes, por exemplo, usa a ironia para compensar a falta do desenvolvimento que se tem com o Conan Doyle original: "Fiz brilhantes deduções baseado em apenas algumas cachimbadas e umas poucas provas. Reparei no depósito de sal no sapato daquele trabalhador".
    No Brasil, iniciativas de transpor a literatura para o formato têm tido repercussão. O editor multimídia Carlos Seabra, da TV Cultura, considera que, embora haja lugar para todo tipo de gênero no Twitter, haicais, aforismos e microcontos se adequem melhor às limitações espaciais da ferramenta. Seabra vê na limitação de espaço um incentivo à criatividade, embora desaprove o uso de abreviações. Para ele, usar "vc" em vez de "você" pode ser válido no processo de comunicação, mas condenável na tuiteratura.
    - Teoricamente, um texto em nosso idioma tende a ser um pouco maior do que em inglês, o que torna mais difícil a comunicação sintética em português. Na prática, a diferença é quase irrelevante - explica. 
    Nos casos em que a obra original corre o risco de perda de qualidade estética com o excesso de concisão, tuiteiros como Seabra adotam a praxe de publicar só o título, o nome do autor e o primeiro verso do poema ou frase-chave da obra em prosa, sempre seguidos de um link para outra página com o texto na íntegra.

    Antonio Pedro Tabet, do Kibe Loco: " a maior porta de banheiro do mundo"
    Remeter a informações hospedadas em outros domínios é um recurso habitual dos tuiteiros para superar a limitação de caracteres. A característica de "chamariz", sinalizando conteúdos que não caberiam no espaço exíguo da ferramenta, tem sido a arma de blogueiros, que combinam o Twitter com blogs. Isca
    Para Wagner Martins, o Mr. Manson, criador do Cocadaboa (blog com 6 mil acessos diários), se os outros meios de comunicação não lidarem com a informação de forma ágil, "sem encher linguiça", terão dificuldade de reter a atenção dos internautas.
    - O Twitter é a porta para um conteúdo mais profundo. Uma isca ou manchete que chama a atenção - explica Martins, sócio da agência Espalhe Marketing de Guerrilha, para quem o poder de síntese é característica de pessoas criativas.
    Que o diga o publicitário Antonio Pedro Tabet, dono de um perfil com mais de 247 mil seguidores e criador do Kibe Loco, blog de humor com 300 mil acessos diários. Para ele, uma ferramenta complementou a outra. O Twitter leva pessoas até o blog e o blog referencia o Twitter.
    - Um amigo me disse que o Twitter é a maior porta de banheiro do mundo. Com a agravante de que o papel acabou e sobrou só a primeira página de jornal - ironiza o publicitário, que diz já ter deixado de escrever coisa melhor no Twitter por faltarem "dois malditos caracteres".
    Para Tabet, apesar de o humor na tuitosfera ser ágil, informal e propenso a experimentações, não significa que seja moderno. O Brasil já teria sua tradição de irreverência concisa.
    - Sérgio Porto já fazia isso há muito tempo, e o Millôr Fernandes faz isso até hoje - defende Tabet.
    Para Martins, do Cocadaboa, os brasileiros são mais preocupados em procurar assunto com outros usuários, daí serem mais propensos à interação nas redes do que os norte-americanos, por exemplo, que costumam ser mais lacônicos, impessoais e informativos.
    - É um fenômeno parecido com a transformação do idioma no cotidiano, com a abreviação de palavras, a ênfase nas onomatopeias e a exclusão de acentos. A língua falada é viva e em constante transformação. E as redes sociais reproduzem isso - afirma Martins.
    Seja qual for a língua, no entanto, o impacto do Twitter em nossa relação com a escrita está por ser dimensionado. Críticos como George Packer, da revista The New Yorker, condenam o rio de informações que o microblog se tornou, alertando para o fato de que é preciso bom senso para beber dessa água, sob o risco de se afogar num mar de informações. Por isso, nos fazer separar o joio do trigo, ao testar os melhores recursos da síntese, pode ser a contribuição do Twitter à comunicação desta primeira década do século.

    Representação linguística
    A participação de cada idioma no portal de mensagens tuitadas
    Inglês (50%)
    Japonês (14%)
    Portugues (9%)
    Malaio (6%)
    Francês (menos de 2%)
    Alemão (menos de 2%)
    Chinês (menos de 2%)
    Fonte: Consultoria Semiocast

    Estilos do twitter
    Exemplos de perfis que vão do jornalismo ao humor em 140 caracteres
    Jornalismo
    Por profissão talhados para a síntese textual, jornalistas levam ao Twitter a lógica da criação das manchetes - o resumo da informação que é também sua peça de "venda".
    EVOLUÇÃO NATURAL: Perfis que capturam não só o resumo da história como sua significação.
    EXEMPLOS DE PERFIS
    @luisnassif [www.twitter.com/luisnassif]: "Nova denúncia da Folha é desmentida pelo Estadão" (http://bit.ly/agMxkZ)
    @Bob_Fernandes [www.twitter.com/Bob_Fernandes]: "Ideológico não quer dizer 'de esquerda', explica linguista Sírio Possenti" (http://migre.me/lgvs)
    HUMOR
    Quanto mais ágil a tirada, mais engraçado seu efeito. A aposta dos humoristas na tuitosfera é responsável por um dos gêneros de maior popularidade das redes sociais.
    EVOLUÇÃO NATURAL: A piada curta, o comentário espirituoso e a imagem síntese dão força ao gênero.
    EXEMPLOS DE PERFIS
    @kibelocO [www.twitter.com/kibelocO]: "As figurantes do Zorra Total são a ponta de estoque das gostosas."
    @mrmanson [www.twitter.com/mrmanson]: "Dorflex, o verdadeiro café da manhã dos campeões."
    LITERATURA
    O esforço de condensar ação dramática numa única imagem-síntese tem permitido exercícios criativos que começam a chamar atenção para escritores da tuitosfera.
    EVOLUÇÃO NATURAL: Os perfis estarão tão ocupados em realizar produções originais quanto em propagar trechos de obras consagradas.
    EXEMPLOS DE PERFIS
    @haicais [www.twitter.com/haicais]: "é meu conforto: / da vida só me tiram / morto" (Millôr Fernandes, citado por Seabra)
    @MarcelinoFreire [www.twitter.com/MarcelinoFreire]: "CONTO NANICO N° 21: Tentava encontrar o meu ponto G com o GPS..."
    @microcontos [www.twitter.com/microcontos]: "O suicida era tão meticuloso que teve de refazer diversas vezes o nó da corda para se enforcar." (Carlos Seabra)
    AFORISMÁTICOS
    A tradição das máximas, pensamentos exemplares, anedotários, comentários de ocasião e citações singulares tem no formato do Twitter um natural espaço de proliferação on-line.
    EVOLUÇÃO NATURAL: O Twitter se torna o espaço da citação de ditos espirituosos e reflexivos.
    EXEMPLOS DE PERFIS
    @danielpiza [www.twitter.com/danielpiza]: "O futebol tem razões que a própria paixão conhece."
    @frasesdelivros [www.twitter.com/frasesdelivros]: "Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas." (O Pequeno Príncipe, Saint-Exupéry)
    @melhoresfrases [http://twitter.com/MELHORESFRASES]: "A mulher brasileira faz tudo. Eu faço unha, maquiagem, cabelo." Juliana Paes, atriz (Revista Istoé)

    Glossário do Twitter
    Os recursos que melhoram a comunicação na tuitosfera
    - Seguidores - De followers, são os usuários que "seguem" um perfil. Na lógica de seguir e ser seguido repousa a mecânica do Twitter. Para organizar os seguidores, sem que o internauta entre num caos de atua­lizações, há o recurso das "listas", em que os perfis classificam-se em palavras-categorias.
    - RTs - Abreviação de "retuítes", a citação do que alguém tuitou antes. A pessoa citada é notificada de que foi mencionada (e quem a mencionou). Hoje, os RTs são divididos em retuítes (cita-se o conteúdo) e retuítes com comentários (somam-se fatos e observações ao conteúdo).
    - Hashtags - Palavras com o símbolo # designam o tema tuitado. Se o usuá­rio clicar a palavra será levado a uma página com mensagens que contiverem a mesma hashtag.
    - Trending topics - Literalmente, "tópicos que são tendência". É o ranking de palavras e hashtags mais tuitadas. Só em 2010, o Brasil ganhou um trending topics próprio. Até então, os resultados em português entravam numa lista geral, com países como os EUA.

    O idioma em 140 caracteres
    Os perfis institucionais que reúnem informações sobre a língua portuguesa

    Revista Língua Portuguesa [www.twitter.com/revistalingua]
    Academia Brasileira de Letras [www.twitter.com/abletras]
    Novo Dicionário Houaiss [www.twitter.com/NovoHouaiss]
    Instituto Camões [www.twitter.com/institutocamoes]
    Museu da Língua Portuguesa [www.twitter.com/museudalingua]

    Onda dos microcontos
    Por Carlos Seabra
    O precursor e talvez o mais famoso microconto já produzido, do guatelmateco Augusto Monterroso, "Cuando despertó, el dinosaurio todavía estaba allí" (Quando acordou, o dinossauro ainda estava lá), consolidou uma vertente de microliteratura, o desafio de contar algo em pouquíssimas palavras de contados toques.
    Autores conceituam e estipulam limites precisos, nascendo assim algumas classificações: nanocontos (até 50 letras, sem contar espaços e acentos), microcontos (até 150 toques, contando letras, espaços e pontuação) e minicontos (alguns estipulando 300 palavras; outros, 600 caracteres). Nada disso é muito rigoroso e depende de critérios editoriais de quem os adotou. O limite de 150 toques cabe no formato de envio de texto pelo celular, o chamado "torpedo". Hoje se usa muito o limite de 140 toques do Twitter - cada vez mais um difusor da microliteratura, que, provavelmente, acabará impondo este limite como padrão.
    Antes de tudo uma brincadeira, os microcontos (nas vertentes de crônicas, contos, aforismos e outras) estarão próximos ao minimalismo pós-moderno? Uma coisa é fato, a micronarrativa contém ingredientes do nosso tempo, a velocidade e a condensação, a possibilidade de publicação em celulares, painéis eletrônicos, rodapé de e-mails (ou algo mais démodé: tampas de caixas de fósforos). Há neles algo dos haicais, a poesia japonesa, com três linhas e um total de 21 sílabas - de certa forma, com o poder de concisão destes, mas a liberdade da prosa.
    Elo forte
    Escritores já brincaram nessa seara, como Jorge Luis Borges, Julio Cortázar, Millôr Fernandes, Dalton Trevisan, ainda que sem pensar no conceito de "microcontos". Literatura de alta velocidade? Drummond já antecipava que "escrever é cortar palavras", Hemingway sugeriu "corte todo o resto e fique no essencial" e João Cabral proclamou "enxugar até a morte". Sônia Bertocchi diz, no blog "Lousa digital":
    "Seguindo à risca a lição dos mestres, chegamos aos microcontos: 'miniaturas literárias' que cabem em panfletos, filipetas, camisetas, adesivos, postes, muros, tatuagens, cartão postal, hologramas, desenhos animados, arquitetura, instalação, música... e que podem ser lidas no ônibus, no metrô e... nas telas do computador (cá entre nós, um prato cheio para propostas atrativas de ensino de literatura e integração de novas tecnologias)".
    De certa forma, o microconto tem outra dimensão: ele é como uma ligação muito forte através de um furinho de agulha no universo, algo que permite projetar uma imagem de uma realidade situada em outra dimensão. Como se por meio desse furo, dois cones se tocassem nas pontas, um menor, que é o que está escrito no microconto, e outro maior, que é a imaginação a partir da leitura - pois, mais do que contar uma história, um microconto sugere diversas, abrindo possibilidades para cada um completar as imagens, o roteiro, as alternativas de desdobramento.
    Seja seu destino a publicação em celulares, camisetas, postais, folhetos na praia, cartazes nos postes, azulejos, hologramas, blogs, e-mails, no Twitter, o mero esquecimento ou o lixo, o microconto é um exercício de criatividade, síntese e algo muito divertido de escrever!

    Carlos Seabra é editor multimídia, coordenador editorial no núcleo Publicações Educação da TV Cultura.

    terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

    As Maiores Mentiras Nacionais


    http://blogln.ning.com/profiles/blogs/as-maiores-mentiras-nacionais

    As Maiores Mentiras Nacionais

    Por Carlos Chagas

    Aposentado por limite de idade do Superior Tribunal Militar, Flávio Flores da Cunha Bierrenback, utiliza as horas de ócio jurídico para desenvolver uma prática que, salvo engano, anda cada vez mais rara no país: pensar. Como simples cidadão, meditar sobre os rumos do país neste início de Século XXI.

    Ex-deputado pelo velho MDB de São Paulo, ele acaba de elaborar a lista das maiores mentiras que circulam como verdades absolutas em todo o território nacional. Não foi possível conhecer todas, porque dificilmente se completará a relação, quando analisada a fundo a arte de enganar a sociedade, praticada pelas elites.

    A primeira mentira é chocante. Sustenta que "a Previdência Social está falida". Não é verdade, rabisca o ex-ministro em seus alfarrábios. Os recursos da Previdência Social, se não fossem historicamente desviados para outras atividades, dariam para atender com folga e até com reajustes anuais maiores os pensionistas e aposentados. Basta atentar para o que anunciaram, quando ministros, Waldir Pires, no governo Sarney, e Antônio Brito, no governo Itamar Franco. Nada mudou, apesar de que quando assumiu, Fernando Henrique Cardoso dedicou-se a espalhar a falência imediata, certamente vítima da febre privatizante, que jamais deixou de cobiçar a Previdência Social pública. Criou até o fator previdenciário, para nivelar todos os aposentados ao salário mínimo.

    Outra mentira imposta ao Brasil como verdade, conforme Bierremback, é de que "estamos inseridos no mundo globalizado". Para começar, globalizado o planeta não está, mas apenas sua parte abastada. O fosso entre ricos e pobres aumenta a cada dia, bastando lançar os olhos sobre a África, boa parte da Ásia e a América Latina. O número de miseráveis se multiplica, sendo que os valores da civilização e da cultura são cada vez mais negados à maioria. Poder falar em telefone celular constitui um avanço, mas se é para receber eletronicamente informações de que não há vagas, qual a vantagem?

    Como consequência, outra mentira olímpica surge quando se diz "que o neoliberalismo é irreversível". Pode ser para as elites, sempre ocupando maiores espaços no universo das relações individuais, às custas da continuada supressão de direitos sociais e trabalhistas. Se neoliberalismo significa o direito de exploração do semelhante, será uma verdade, mas imaginar que a Humanidade possa seguir indefinidamente nessa linha é bobagem. Na primeira curva do caminho acontecerá a surpresa.

    Na mesma sequência, outra mentira, para o ex-vice-presidente do STM: "o socialismo morreu". Absolutamente. Poderá ter saído pelo ralo o socialismo ditatorial, por décadas liderado pela ex-União Soviética, mas não o socialismo real, aquele que busca dar aos cidadãos condições de vida digna, a cada um segundo sua necessidade, tanto quanto segundo a sua capacidade. O que não pode persistir, e contra isso o socialismo se insurge, é a concentração sempre maior de riqueza nas mãos de uns poucos. Não pode dar certo.

    Nova mentira: "o Estado tem que ser mínimo, deve afastar-se das relações sociais e econômicas". Para que? Para servir às elites? Especialmente em países como o Brasil, o poder público precisa prevalecer sobre os interesses individuais e de grupos. Existe para atender às necessidades da população que o constitui, através da via democrática. Deve contrariar privilégios e estancar benesses para os mais favorecidos, atendendo as massas.

    No que deu para perceber, até aqui, ainda incompleta, a lista de Flávio Flores da Cunha Bierremback ultrapassará a dez a que ele se propõe elaborar, sobre as mentiras que nos atingem. Mas não faltará uma que, felizmente, dissolveu-se através de um plebiscito nacional, tempos atrás: "de que a proibição da venda, comercialização e posse de armas faria a criminalidade decair". Ora, se ao cidadão comum fosse negado o direito de se defender, na cidade e no campo, estaria a sociedade brasileira ainda mais à mercê da bandidagem. Seria a felicidade do ladrão, sabendo que não há armas na casa que vai assaltar.

    Vamos aguardar outra oportunidade para completar a relação do ex-vice-presidente do STM sobre as maiores mentiras que nos assolam.

    As 10 estratégias de manipulação midiática
















    As 10 estratégias de manipulação midiática

    Noam Chomsky *

    1. A estratégia da distração
    O elemento primordial do controle social é a estratégia da distração, que consiste em desviar a atenção do público dos problemas importantes e das mudanças decididas pelas elites políticas e econômicas, mediante a técnica do dilúvio ou inundação de contínuas distrações e de informações insignificantes.

    A estratégia da distração é igualmente indispensável para impedir que o público se interesse pelos conhecimentos essenciais, na área da ciência, da economia, da psicologia, da neurobiologia e da cibernética. "Manter a atenção do público distraída, longe dos verdadeiros problemas sociais, cativada por temas sem importância real. Manter o público ocupado, ocupado, ocupado; sem nenhum tempo para pensar; de volta à granja com outros animais (citação do texto "Armas silenciosas para guerras tranquilas").

    2. Criar problemas e depois oferecer soluções
    Esse método também é denominado "problema-ração-solução". Cria-se um problema, uma "situação" prevista para causar certa reação no público a fim de que este acredite ser o demandante das medidas que na verdade é a classe dominante que deseja. Por exemplo: deixar que se desenvolva ou intensifique a violência urbana, ou organizar atentados sangrentos, a fim de que o público seja o demandante de leis de segurança e políticas em prejuízo da liberdade. Ou também: criar uma crise econômica para forçar a aceitação, como um mal menor, do retrocesso dos direitos sociais e o desmantelamento dos serviços púbicos.
    3. A estratégia da gradualidade.
    Para fazer com que uma medida inaceitável passe a ser aceita basta aplicá-la gradualmente, a conta-gotas, por anos consecutivos. Dessa maneira, condições socioeconômicas radicalmente novas (neoliberalismo) foram impostas durante as décadas de 1980 e 1990. Estado mínimo, privatizações, precariedade, flexibilidade, desemprego em massa, salários que já não asseguram ingressos decentes, tantas mudanças que teriam provocado uma revolução se tivessem sido aplicadas de uma só vez.
    4. A estratégia de diferir

    Outra maneira de forçar a aceitação de uma decisão impopular é a de apresentá-la como "dolorosa e desnecessária", obtendo a aceitação pública, no momento, para uma aplicação futura. É mais fácil aceitar um sacrifício futuro do que um sacrificio imediato. Primeiro, porque o esforço não é empregado imediatamente. Logo, porque o público, a massa tem sempre a tendência a esperar ingenuamente que "tudo irá melhorar amanhã" e que o sacrifício exigido poderá ser evitado. Isso dá mais tempo ao público para acostumar-se à ideia de mudança e de aceitá-la com resignação quando chegue o momento.
    5. Dirigir-se ao público como se fossem menores de idade
    A maior parte da publicidade dirigida ao grande público utiliza discursos, argumentos, personagens e entonação particularmente infantis, muitas vezes próximos à debilidade mental, como se o espectador fosse uma pessoa menor de idade ou portador de distúrbios mentais. Quanto mais tentem enganar o espectador, mais tendem a adotar um tom infantilizante. Por quê? "Se alguém se dirige a uma pessoa como se ela tivesse 12 anos ou menos, em razão da sugestionabilidade, então, provavelmente, ela terá uma resposta ou ração também desprovida de um sentido crítico (ver "Armas silenciosas para guerras tranquilas")".
    6. Utilizar o aspecto emocional mais do que a reflexão
    Fazer uso do aspecto emocional é uma técnica clássica para causar um curto circuito na análise racional e, finalmente, ao sentido crítico dos indivíduos. Por outro lado, a utilização do registro emocional permite abrir a porta de acesso ao inconsciente para implantar ou enxertar ideias, desejos, medos e temores, compulsões ou induzir comportamentos...
    7. Manter o público na ignorância e na mediocridade

    Fazer com que o público seja incapaz de compreender as tecnologias e os métodos utilizados para seu controle e sua escravidão. "A qualidade da educação dada às classes sociais menos favorecidas deve ser a mais pobre e medíocre possível, de forma que a distância da ignorância que planeja entre as classes menos favorecidas e as classes mais favorecidas seja e permaneça impossível de alcançar (ver "Armas silenciosas para guerras tranquilas").
    8. Estimular o público a ser complacente com a mediocridade

    Levar o público a crer que é moda o fato de ser estúpido, vulgar e inculto.
    9. Reforçar a autoculpabilidade

    Fazer as pessoas acreditarem que são culpadas por sua própria desgraça, devido à pouca inteligência, por falta de capacidade ou de esforços. Assim, em vez de rebelar-se contra o sistema econômico, o indivíduo se autodesvalida e se culpa, o que gera um estado depressivo, cujo um dos efeitos é a inibição de sua ação. E sem ação, não há revolução!
    10. Conhecer os indivíduos melhor do que eles mesmos se conhecem

    No transcurso dosúltimos 50 anos, os avanços acelerados da ciência gerou uma brecha crescente entre os conhecimentos do público e os possuídos e utilizados pelas elites dominantes. Graças à biologia, à neurobiologia e à psicologia aplicada, o "sistema" tem disfrutado de um conhecimento avançado do ser humano, tanto no aspecto físico quanto no psicológico. O sistema conseguiu conhecer melhor o indivíduo comum do que ele a si mesmo.
    Isso significa que, na maioria dos casos, o sistema exerce um controle maior e um grande poder sobre os indivíduos, maior do que o dos indivíduos sobre si mesmos.

    * Linguista, filósofo e ativista político estadunidense. Professor de Linguística no Instituto de Tecnologia de Massachusetts

    terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

    Trigun (トライガン toraigan) de Satoshi Nishimura - Madhouse Studios



    Edson Bueno de Camargo

    Acabei de assistir o desenho animado Trigun (トライガン toraigan) anime de 1998 do diretor Satoshi Nishimura e realizado pelo estúdio Madhouse Studios , série adaptada a partir do mangá de Yasuhiro Nightow, lançada em 1995. Devo confessar que assisti a série inteira de uma vez a parti r de uma cópia não muito convencional. (Aviso: Não comprei, nem aluguei, tomei emprestado de um amigo).

    Já havia assistido alguns episódios na TV Animax, mas consegui seguir, ficando muito confuso e com vontade de entender. A narrativa nem sempre é linear, com muitos flash backs o tempo todo. Não posso dar muitos detalhes da história sem correr o risco de estragar as muitas surpresas espalhadas pela série. Posso dizer que descreve trajetória do pistoleiro Vash the Stamped (バシュ ザ スタンピド bashu za sutanpido), ou Estouro da Boiada na versão brasileira. Um verdadeiro ímã de encrenca, mas que no entanto não acredita em tirar vidas, gerando situações inusitadas e muito cômicas. Duas mocinhas muito divertidas (corretoras de seguro??) e um padre nada convencional, são personagens também presentes de boa parte da trama.

    Afora o pano de fundo de ficção científica, naves espaciais e tudo mais, o anime é um bom velho oeste, ao estilo italiano, fico imaginando um live action, com Franco Nero no papel de Vash. E como todo bom spaghetti western tem um final apoteótico que dura um capítulo inteiro.

    Não chega a ser um spoiler, pois lá pelo meio da série isto é revelado, tanto Vash como Knives seu irmão (a é, ele tem um irmão, mais spaghetti western) tem uma vida muito longa, mas no entanto o personagem é quase pueril, o que para mim é impossível, não acredito que uma pessoa possa se manter infantil tanto tempo.Outro fator engraçado é que o desenho do personagem vai mudando ao longo da série, ficando mais humano e menos cômico à medida que se aproxima do final.

    No mais, convido-os a assistirem o seriado, e tirarem as próprias conclusões, há momentos um pouco confusos, algumas falhas de argumentos aceitáveis, dentro do normal, como um todo é muito bom e divertido.



    Trigun - anime - 1998 - Satoshi Nishimura- Madhouse Studios

    anime – desenho animado seriado japonês
    flash backs – recortes do passado em meio a trama
    live action – filme por personagens reais
    mangá – história em quadrinhos japonesa
    spaghetti western – filme de velho oeste produzido na Itália
    spoiler – informação a respeito do filme ou série que não é de domínio do público


    Exercício de criação 11