quinta-feira, 5 de abril de 2012

Sobre iletrados e preconceito.



Dois acontecimentos recentes me fizeram fazer um reflexão a respeito de um tipo de patrulhamento que acontece nas redes sociais, surgiram agora os politicamente ortográficos, gramáticos de casaca (e chatos de galocha), pessoas tendo um ataque apoplético, quando veem a palavra nu acentuada. Um camarada se deu ao trabalho, de fazer um comentário em meu blogue chamando as pessoas que fizeram um cartaz de “iletradas” porque nu estava acentuado com o acento agudo, (nú), ora além da má educação e da grosseria, quanta importância assim tem um vestígio de usos da língua anteriores ao acordo ortográfico. Nestas horas sinto a falta do acento agudo em outro monossílabo terminado em u.

Noutra feita, um sujeito fez um escândalo de bode, por conta do posicionamento de um pronome, como se quem fez o quadro divulgado no Facebook, tivesse chutado uma vaca em Dheli, venhamos e convenhamos, vacas sagradas e certezas absolutas já perderam á muito tempo o caráter de coisa santa e sacramentada.

Pois gostaria de colocar meu manifesto repúdio a estas pessoas e principalmente às suas atitudes, não que não creia que os erros não devam ser apontados, normal, desde feito com educação e urbanidade, com o intuito de acrescentar, e não chamar a atenção sobre si; o que irrita é a profunda grosseria com que estes tem se manifestado, passando por cima dos conceitos apresentados e brochando discussões bacanas em torno do assunto, como se um acento agudo fosse mais importante do que discutir a ação de censura nos multimeios, como se a ameaça real de um controle da Internet fosse menos importante que o uso adequado da língua, com em um dos exemplos.

O pior de tudo, é quando temos consciência das raízes deste purismo linguístico e gramatical, de acordo com o professor Marcos Bagno, preconceito, com o qual concordo perfeitamente. É uma visão elitista, de pessoas que não se conformam em ter de ocupar o mesmo espaço com os “incultos”,  vestígios de uma sociedade de raiz escravista,  dividir pessoas pelo seu conhecimento formal, e principalmente pela forma como usa a língua, é também ambicionar a existência de castas. Inculto no Brasil, muitas vezes significa, pobre, negro, subalterno, inferior.

Fui abençoado com um grave déficit de atenção, ou TDA clinicamente, o que praticamente me impede de observar pequenos detalhes, que quase sempre passam em branco, acabo sempre me concentrando no todo. Tenho problemas com dislexia e disgrafia, muito do que escrevo, tem de ser revisado, uma vez que mudanças das palavras em sua ordem nas frases são muito comuns. Pelo certo não deveria ter aprendido a ler, minha sagrada experiência com o mundo,  nem de escrever poesia, que cada dia percebo não ter sido uma escolha, no entanto faço. Além do que, como escolhi o caminho da poesia, descobri assim como o Manoel de Barros bem antes de mim, que a poesia anda pelos descaminhos, pelas impropriedades, ao sabor do acaso, graça nas imperfeições, aos escritores é dado a liberdade e a obrigação de romper com os tratados, com os ritos sumários, com o decoro das regras,  desaprender a língua, moldá-la nos desvios e nos acasos.

Os chatos que criem o chatoface, onde além de censurar os nus, poderão expurgar os erros de português e digitação, e que para entrar terá de passar por uma sabatina.

Aos puristas da língua, para não dizer outra coisa, falo, vão tratar suas neuroses, e deixem as pessoas que estão aqui no mundo para se divertir em paz.

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