Sempre que sou convidado pelos
meus inúmeros amigos professores e pessoas envolvidas com educação, vou a
escolas para falar com os estudantes, muitas vezes sobre o ato de escrever, ou
sobre um autor ou assunto específico à área, toda vez que se abre um espaço,
leio um poema ou outro. Tenho feito isto com frequência. Em geral os alunos são
interessados, fazem boas perguntas, afora um outro grupinho mais impertinente, estes
encontros costumam ser bem prazerosos.
Um dia, falando sobre Solano Trindade em uma escola de EJA – Educação de Jovens e Adultos, a EMEJA Clarice Lispector em Mauá-SP , um senhor me fez uma pergunta muito interessante, que me pôs em cheque. E olha que sou um respondedor nato, especialista em assuntos aleatórios, dificilmente deixo uma pergunta sem resposta, mas esta calou-me.
Após a explanação sobre o poeta, eu
e o outro escritor que me acompanhava, abrimos para perguntas, e entre várias
perguntando do poeta e sua vida, uma atravessou o assunto:
- Por que vocês estão fazendo isto?
- Por que vocês estão fazendo isto?
Imediatamente respondi que foi a
convite da professora de história. e que eles iam participar do Concurso
Camélias da Liberdade, quando este senhor me interrompe,
- Não, isso eu sei, eu quero saber por que vocês estão aqui? Sem receber nada, usando seu tempo livre, falando com a gente: Por que vocês estão fazendo isso?
- Não, isso eu sei, eu quero saber por que vocês estão aqui? Sem receber nada, usando seu tempo livre, falando com a gente: Por que vocês estão fazendo isso?
Cara que pergunta fantástica, vindo de um trabalhador que devia estar acordado desde muito cedo, trabalhou o dia inteiro e provavelmente estava sem jantar, tentando aprender alguma coisa em uma escola municipal, mostrou-se um grande filósofo ao elaborar uma questão tão crucial, mesmo que aparentemente simples.
Primeiro lhe falei da grande
sacanagem que ele fez, uma vez que pelo menos para mim, esta não era uma
pergunta fácil de responder. E certo: Não consegui responder a pergunta; dei
uma enrolada básica, falando um monte de coisas sem falar nada.
Até hoje tento sem qualquer
sucesso responder esta pergunta, que muitas vezes faço para mim mesmo, só ouvindo o eco.
Por que estamos fazendo
isso? Por que fazer arte e lutar por
cultura de qualidade para as pessoas?
Por que nadar contra a corrente? Por que não terminei a faculdade de
economia e tornei-me um gerente de banco na Holanda como meu amigo hippie
daqueles tempos? Por que vivo batendo de frente com autoridades pedindo mais
espaço e dinheiro para a cultura (tornando-me muitas vezes persona non grata em certos lugares)? Por que desta santa teimosia?
E por fim a pergunta de fato que o senhor do EJA nos queira fazer: O que ganhamos com isso?
Ainda estou a tentar formular uma
resposta satisfatória.
A pergunta que não quer calar. Até o ano passado e com calos nas cordas vocais eu resisti em "sala de aula" ministrando aulas de História da Arte considerada por muitos de meus colegas de trabalho como "perfumaria".
ResponderExcluirParticipei de uma mostra de arte na praça da Faculdade Metodista neste ano e também da palestra oferecida aos alunos. Havia uma moça que se destacava por seus pensamentos. No final ela veio até a mim e disse que tudo o que ela sabia de Arte e principalmente essa produzida hoje, era graças as aulas que havia assistido no ensino médio e que eu havia sido sua professora.
Penso que plantei mais de uma sementinha e fico satisfeita com esse pequeno exemplo como resposta.
Forte abraço,
Sueli de Moraes.
artista plástica mais que sonhadora e arte educadora.