quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Texto de Homero Mattos Jr. - E a história se repete "ad infinitum" no Brasil.

Imagem reflexa                       
Homero Mattos Jr.

Em período a coincidir com a fase decisiva do atual processo eleitoral brasileiro, a Folha de São Paulo informa: vai relançar um dos filmes de uma antiga campanha publicitária na qual, em filmes diversos, imagens de figuras históricas vão surgindo aos poucos para, ao final e em totalidade, revelarem-se em agudo contraste com algumas de suas próprias realizações, listadas estas, uma a uma, mediante locução em back-off.
Não se trata, aqui, de especular sobre as motivações da Folha para -por entre todas as figuras disponíveis nos filmes da antiga campanha- escolher desta feita apenas, e precisamente, uma: Adolf Hitler. Cuida-se de analisar uma sutil (e quero crer não-intencional) indução ao erro, presente no filme em questão.
Até o presente momento não se tem registro de que o ditador nazista tenha passado pela transfiguração moral que os gregos clássicos chamavam de enantiodromia, ou seja, uma mudança psíquica radical, de uma ponta para a outra nas extremidades de um arco entre opostos.
Como sabem os psicólogos: "corremos o risco de nos transformar naquilo que perseguimos". Disso, exemplos históricos, entre tantos, são: o apóstolo S. Paulo; Napoleão e Stalin.
No caso brasileiro, talvez o melhor exemplo seja (por enquanto) o de um jornalista: Carlos Lacerda, figura central de eventos que haveriam de culminar no golpe cívico-militar de 1964.
Apelidado O Corvo, Lacerda começou a fazer política em 1934, na Juventude Comunista do PCB. Membro fundador da Aliança Nacional Libertadora –frente popular contra o imperialismo e o latifúndio, Lacerda acabaria por concluir, em 1939, que a "solução comunista” implicava na instituição de "uma ditadura pior do que as outras, porque muito mais organizada e, portanto, muito mais difícil de derrubar”. Neste sentido o ponto-de-vista de Lacerda possuía intrigante (porém compreensível) semelhança com o expresso por Adolf Hitler em Mein Kampf. A saber: "O que explica o êxito da visão de mundo internacional (dirigida politicamente pelo marxismo) é o fato de ela ser representada por um partido político organizado minuciosamente.”
Não sabemos se, tal como Hitler, Lacerda acreditava que "uma visão de mundo só pode combater e triunfar sob a forma limitada e não numa liberdade ilimitada". Contudo, o moto essencial e underground de todas as grifes golpistas brasileiras -since 1950- traz a assinatura do jornalista: “... não pode ser eleito e, se eleito, não pode tomar posse...” Em 1949, após filiar-se à UDN, Lacerda fundou A Tribuna da Imprensa, jornal porta-voz daquela agremiação e veículo da mais intensa, sistemática e feroz oposição ao segundo governo Vargas.
Em 1950, eleito em Nova York membro da Associação Interamericana de Imprensa, Lacerda foi nomeado secretário da organização no Brasil. E assim ungido, invocando a Democracia (que julgava “necessário ser reformada”) e acusando o presidente Vargas de "malversação de fundos públicos”, “patriarca do roubo” e “gerente-geral da corrupção no Brasil”, muitas outras e tantas campanhas empreenderam o jornalista e seu lendário jornal.
Então, por suas idiossincrasias, Lacerda, e não Hitler, melhor parece adequar-se ao propósito da campanha publicitária em foco. Creio.
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2 comentários:

  1. Não acredito em erro não intencional de um Jornal de Massa como a folha.

    Com relação a "uma visão de mundo só pode combater e triunfar sob a forma limitada e não numa liberdade ilimitada", ou seja, com relação a ditadura, as vezes ela se faz necessária, ninguém nunca vai me convencer q a Cuba de Fidel, um cocozinho quase dentro de Miami, não foi boa pra eles, nesse caso a Ditadura de Fidel se fez necessária para ir contra a ditadura norte americana q se fez por quase toda a América Latina, cuba não tinha outra opção. Vcs podem vir com aquele papo de direito de ri e vir e tudo mais, mas pra mim, um Darcy Ribeirista convicto, existem duas prioridades no mundo, educação e saúde, o resto vem depois, e isso nem o mais articulado orador vai poder negar q na Cuba de Fidel funcionou.

    "solução comunista” implicava na instituição de "uma ditadura pior do que as outras, porque muito mais organizada e, portanto, muito mais difícil de derrubar”. – é bom refletir sobre essa passagem com muita calma e sem paradigmas idiotas sem fundamento real.

    Não sou a favor de Ditadura, mas as vezes ela se faz necessária, será q se Fidel castro tivesse no nascido Brasileiro não teria sido melhor pro Brasil. Acho que sim!

    Existem dois tipos de ditadura, a que visa manter os oligopólios e as negociatas, e a que visa o povo, a de cuba foi pro bem do povo.

    Comparar Lacerda a Hitler é demais pra mim.

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  2. E não esquecer que o projeto de Brasil calcado em educação e justiça social foi abortado pelo regime de 64.

    Paulo Freire um dos inspiradores de Darcy Ribeiro foi defenestrado pela Ditadura Militar no Brasil.

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