quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Não quero ser dono de nenhuma verdade



Edson Bueno de Camargo

Esta eleição está mesmo tomando ares de plebiscito, mas temo que o que se discute é um Brasil selvagem e uma sociedade acostumada a pensar em forma de castas, e um Brasil que quer mudar de fato para algo diferente, nem sei bem se muito melhor, mas melhor que o que ai está com certeza será.

Tenho me espantando como as seções de cartas de leitores dos jornais vem sendo tomadas com mensagens furiosas e cheias de ódio. Foram oito anos de governo Lula sob ataque impiedoso. À medida que se vislumbra uma possibilidade de vitória da candidata Dilma, mais raivosas as missivas, quase sempre recheadas de um desagradável ranço de preconceito contra nordestinos, desfavorecidos, xenofobias, elogios a regimes fascistas e saudades do regime militar, e de uma grande falta de solidariedade humana. Tomássemos por medida estas seções dos jornais e suas manchetes, estaríamos no país em um estado pré revolucionário, no entanto o que vejo são pessoas trabalhando em paz e ordem. Eu não vivo no país horrível destas pessoas. Meu país tem problemas, mas se apontam as soluções, as possibilidades.

O que me incomoda é a violência com que estas pessoas se manifestam, há um comportamento xiita de que só eles tem a razão do mundo, e que só há liberdade dentro de sua forma de pensamento, ora a própria Constituição coloca como direito fundamental o Contraditório, elemento necessário à democracia, pensamentos monolíticos são deveras perigosos. Não há possibilidade de diálogo, a unilateralidade das idéias é constrangedora. Ou pensamos igual, ou somos inimigos. Ai de mim que primo pela conversação até a exaustão, e depois descansamos, e continuamos o diálogo. O contrário disto seria nos digladiarmos em arenas públicas, para que o mais forte force a sua razão. Não acredito na lei do mais forte. Desprezo a lei de Talião. Quero o império da palavra, e a ordem pelo cumprimento da Lei, que se pese de forma igualitária. Tenho nojo desta estrutura que chamam hoje de Justiça, eivada pelo pejo da injustiça, da fornicação do dinheiro, da venalidade, da parcialidade diante da riqueza. Sem justiça não há paz.

Quero o fim da sociedade dos doutorzinhos, dos sinhozinhos, do peso vergonhoso do escravismo que não sai das idéias de nossas elites burguesas, da impunidade com base na crença de que algumas pessoas são superiores às outras, pois todos somos necessários ao funcionamento da sociedade. Passou da hora do jogo ter regras mais justas e não mudar quando o mais forte está perdendo. Quero o fim do preconceito lingüístico, do riso nervoso contra os que falam “errado”. Quero o fim da vergonha dos humildes, e o começo da vergonha de quem deveria ter. Quero o país dos que sentam na soleira do quintal para comer sua janta olhando para as estrelas.

Tenho o direito de pensar como bem quiser, de desmascarar o capitalismo e sua aliada prostituta a mídia. Posso ser obrigado a viver sob este regime, mas não sou obrigado a gostar e tenho o direito de mostrar meu desagravo, sem que me venham censurar meu ato, com palavras e ordens e gritos. A minoria barulhenta já governou por muito tempo, está na hora de mudar de verdade. Não aceito mais o argumento da injustiça, do preconceito contra as minorias, da humilhação e criminalização das mulheres que abortam, da violência contra aqueles que querem amar pessoas do mesmo sexo, das pessoas que estão privadas de seus direitos pela recusa do casamento homossexual, da negação das religiões africanas e indígenas, da vergonha de ainda termos fome em nosso Brasil.

Na Internet as mensagens furiosas ainda tomam um ar mais perigoso, o do anonimato, pessoas sem nome se sentem no direito de atentar contra tudo o que é da faculdade humana de tolerância e benevolência. Mensagens de teor de ordem de ódio racial despontam por todos os cantos, qualquer um que defenda uma postura mais humanista é atacado por “trolls”, neologismo que indica patrulheiros morais da antiga ordem que parecem estar em toda a parte. Não há o menor respeito pela opinião dos outros. Nada é sagrado para estes patrulheiros que agem de forma muito semelhante as “tropas de assalto” pré SS nazista (e sabemos bem no que isto deu). A ordem é a violência verbal, os ataques pessoais, e os argumentos mais absurdos. Poucas pessoas com posturas humanistas e socialistas que conheço ficaram impunes, a ponto que não há um só blog de opinião cujos comentários não sejam moderados, tamanha a virulência destes ataques.

Por fim não quero ser dono de nenhuma verdade, pois a verdade é de cada um, só quero o direito de dizer o que penso em paz sem ser coagido ou constrangido. E se for contraposto, que isto aconteça com educação, argumentos e urbanidade.

Um comentário:

Não leve os posts deste blog muito a sério. São questões muito pessoais. Primo pela urbanidade e cordialidade, os que virem com educação sejam bem vindos.