Narciso (1594-1596), por Caravaggio.
não tenho vergonha do que sou
mas o espelho é um inquisidor
a nudez não me é estranha
mas o espelho sim
e toda a vez que me encaro
olho no olho
ele me devolve:
- monstro -
meus anos se revelam
em meu corpo
e o espelho os acusa
a barriga redonda
os pelos brancos
a barba branca
os pelos do peito brancos
toda a maciez do branco
todo o aveludado do branco
todo o estrago do tempo
o sexo apontado
para a gravidade do terreno
estou mais para o centro da terra
que para o cio das mulheres
o tempo é uma queda descomunal
os seios das mulheres
os cabelos dos homens
o amolecimento incurável da língua
da falta de medo
da falta de pudor
e a desmesura inevitável
das palavras
Exercício de criação 31
http://gambiarraliteraria.blogspot.com/2011/09/exercicio-de-criacao-31.html
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